Mais um trecho do livro: A HARPA SAGRADA
Tapei os ouvidos com as mãos, desci a encosta e me afastei do local,
atordoado. Eu não queria ver a cidade, nem ouvir os comentários.
Zamorim se aproximou. Tentando me recompor, perguntei:
− O que deseja de mim, Zamorim?
− Paulo, o que eu desejo de ti, já conseguiste provar.
− Como assim? Nunca acreditei no sobrenatural, e nem sou uma pessoa de fé; por que me escolheu? Não sou digno de estar aqui.
− Paulo, em ti há poderes que estão além da minha compreensão e da tua. Eu te peço: de agora em diante, raciocina de forma positiva e progressista. Somente essa condição conduzirá todos além dessa consciência comum, e poderá salvar a muitos na Terra, conduzindo-os além. Paulo esse sistema solar, corre perigo, e você é parte fundamental para salvá-lo.
Novamente Zamorim apontavam-me grandes responsabilidades, suas palavras se mostravam carregadas de vibrações vivas, que me fizeram acreditar que, de alguma forma misteriosa, eu era forte e especial. Após breve silêncio, acrescentou:
− Sei que prometeu a sua mãe que seria um dos maiores jornalistas do mundo. Esta é a oportunidade de cumprir tal juramento.
Relembrei a promessa que fizera a minha mãe, fixei o olhar no sol branco; em seguida, admirei a visão espetacular daquele mundo à minha frente. Refleti sobre tudo que Zamorim havia falado, e lembrei-me da Terra. Constatava que a humanidade sempre fora guiada pelas mais diversas convicções. E, até aquele momento, poucos conseguira ter a noção de sua própria realidade, e nos passar grandes ensinos, que não sendo aceitos pela maioria, foram claramente distorcidos. Talvez Zamorim estivesse certo: − Somente o ascender da Luz Dourada, da Iluminação vinda do céu, nos permitiria uma percepção maior da vida. Não há duvidas, nossos sentimentos são desordenados, misturados a bons, e ruins, isso nos leva a refletir que nossas visões e analises não podem ser universalmente perfeitas. Ali, daquele mundo, percebia como nós, seres terrenos, éramos donos de um corpo físico com funções e movimentos formidáveis, mas sem o discernimento do seu real funcionamento. E o mais incrível: perpetuávamos novas existências sem essa noção. De fato, algo maior, instintivo, perfeito existia dentro de nós, só podíamos ter chegado ao ponto de evolução que chegamos sendo auxiliados por forças, ou vibrações vindas de mundos que nos fossem superiores. Talvez eu estivesse sendo colocado à prova para revelar à humanidade essa lógica insofismável, junto ao que nos levaria a nossa verdadeira realidade, afinal.
Aqueles pensamentos inusitados surgiam na minha mente, como se os retirasse de dentro de um baú antigo, só que esse baú era eu. Levantei-me e, resoluto, subi o restante da encosta. O que teria a perder? Chegando ao cume, diante dos meus olhos surgiu a mais espetacular visão que tivera em minha vida. Uma fascinante melodia inundou-me o interior da mente, o que antes acharia impossível, ou loucura. Mas ali, naquele momento era diferente. Pela primeira vez ouvia um som, não de fora para dentro, mas de dentro para fora.
Pela primeira vez, um pensamente interno do tamanho daquela fantástica visão, me veio à mente: “O mistério em qualquer mundo, será sempre buscado, por que é dele, que renascem as novas engrenagens universais.”
Abri os braços, caí de joelhos, sorrindo e chorando ao mesmo tempo, enquanto contemplava aquela visão esplêndida e transformadora. Sentia no meu íntimo que, a partir daquele dia, minha vida jamais seria a mesma.
Avistava as montanhas cristalinas ao longe: uma azul, de água-marinha; a outra, vermelha, de rubi; a verde era de esmeralda; e a amarela, de citrino. Havia uma maior, a mais majestosa de todas, e todo colorida. Zamorim disse que aquela era a Montanha Sagrada e explicou sobre aquela cidade.
− Dentro daquela montanha maior, existem equalizadores frequenciais, que foram implantados pelos Ancestrais, o que possibilita que pessoas de quaisquer nacionalidades, e mesmos os viajantes do tempo, ao chegarem a esse mundo, entendam e falem uma mesma língua: o Esperanto – linguagem que estava predestinada para a humanidade.
“Então é por isso que as pessoas falam uma língua diferente, e as entendo”. Refleti rápido, e Zamorim continuou falando.
Aqui, todos estão predestinados a desenvolver suas essências cósmicas, como a clariaudiência, clarividência, polividência, telepatia, intuição, telepatia, viagem astral, ampliando, assim, seu eletromagnetismo. Você vai aprender tais possibilidades, que no decorrer da história, para repassá-las as pessoas.
Aqui estudam também o universo, com suas galáxias, planetas, e, principalmente, estudam a música. O dinheiro não se faz necessário; as pessoas se alimentam da energia retirada do prana, quando adultos podem conservar sua juventude, e quase não dormem, uma vez que a noção de tempo não é igual à da Terra: todos vivem no eterno.
Zamorim falava, mas suas explicações perdiam-se, por vezes, dos meus ouvidos, porque o sentido da visão estava muito mais aguçado, diante das belezas que vislumbrava. O lugar parece ser um pedaço do paraíso. A natureza exala toda a sua exuberância e o infinito é totalmente branco. O grandioso sol branco derrama sua luminosidade sobre a cidade. Vistas com mais atenção, as sucessivas montanhas cristalizadas parecem ter sido retiradas de um molde único e forjadas por mãos ágeis e sábias, tal perfeição demonstrada numa simetria perfeita. E de acordo com a posição que o sol se reflete nelas, formam um arco-íris de beleza singela.
Os habitantes da cidade moram em um gigantesco castelo dourado, com enormes torres arredondadas, contornados com linhas entrelaçadas de prata – como que bordadas a mão –, destacando-se pela arquitetura fantástica, diferente de qualquer outra coisa já vista na Terra. Um espetacular jardim, de beleza indescritível, o cerca. A frente avistam um amplo coreto redondo com teto cristalino
transparente, de quatorze metros de altura, cujo acesso se dá por largos degraus de cristais, cada um de uma cor.
Zamorim apontou para dois magníficos templos. Um é o Templo de Luz, em forma de sete pirâmides interligadas, com quarenta metros de altura. Cada pirâmide irradia uma das cores do arco-íris; elas se encontram apoiadas sobre um grandioso retângulo na cor prata fosco. O imponente templo é cercado por um enorme lago, cujo acesso é feito através de quatro pontes douradas e ornadas por grandes e cintilantes pérolas trazidas dos mares da Terra, debaixo dos quais se mantiveram adormecidas por milênios.
O outro é o Templo de Lúxmen, com arquitetura completamente diversa. Quadrangular e de grandes proporções, lembra as antigas construções gregas. Todo branco, de suas paredes irradiam pontos luminosos, porque ele é recoberto por pequeninos diamantes.
Dos vários lagos existentes uns possuem águas coloridas, enquanto outros são límpidos e refletem a cor do céu, sugerindo enormes toalhas brancas, bordadas com pontinhos brilhantes, reflexos do sol branco, que formam pontos vivos, soltos sobre um espelho d’água. Os chafarizes, com águas coloridas, têm formas espetaculares. As cachoeiras deslumbram, com suas águas coloridas. Muito ao longe,
a oeste, quase indefinidas, poucas e gigantescas aves raras sobrevoam as montanhas, deslizando com suavidade pelo ar suas plumagens longas e coloridas, que reluzem brilhos diversos. Árvores seculares e, algumas, até milenares, totalmente floridas, tornam tudo ainda mais perfeito.
E, por toda parte, jardins emolduram a paisagem com belas e coloridas flores. O gramado forma um gigantesco tapete e, ali, não predomina a cor branca, mas todas as cores, como que tecido pelas mãos consagradas da sabedoria e beleza universal. E o mais impressionante: Dependendo da posição de onde estamos, o gramado muda sua coloração. A pirâmide interdimensional é linda.
Homens, mulheres e crianças com roupas leves e coloridas transitam suavemente em animada alegria. Alguns, mais distantes, criam esculturas; pintam em grandes telas; outros escrevem serenamente seus livros; e ainda existem os compositores, que registram seus pensamentos em versos e notas musicais, transformados em melodias que, certamente, serão enviadas e eternizados na Terra.
E o aroma! Que doce fragrância... Misturam-se os leves perfumes já
conhecidos a outros aromas agradáveis. Os sorrisos são permanentes, criando uma atmosfera harmoniosa.
A magia está no ar; e os sentidos ali parecem se amplificar. Eu olhava para o infinito branco e ouvia baixinho um coral, vindo de galáxias distantes, soprados por hálitos, quem sabe dos deuses do Olímpio.
Melodias também chegam suaves, vindas de várias direções, e, dependendo do movimento da cabeça, podem-se ouvir diferentes composições, que não se misturam umas às outras. É só desejar.
Qualquer um que contemple a cidade da Harpa Sagrada será tocado
internamente por uma misteriosa força transformadora, e sua essência vibrará para sempre, em ressonância com a visão dessa beleza inesquecível.
E todo esse encanto é apenas o reflexo de uma vibração sonora visível, representando apenas uma nota de um único acorde na gigantesca e colossal Harpa Sagrada do Universo.
Quem observar essa cidade pela primeira vez, só nos últimos momentos de admiração compreenderá − assim como eu − que tudo se encontra interligado, fazendo parte de um extraordinário Universo em desenvolvimento. Diante tanto esplendor, não há como conter a poesia que brota do nosso interior.
Explorei mais ao longe, com o olhar, uma estranha e grande muralha lisa e cristalina, branca, translúcida por fora e negra por dentro, de mais de quinhentos metros de altura, que circunda um amplo espaço, a alguns quilômetros da cidade e destoa da sua beleza peculiar. Uma névoa escura paira sobre o local, me passando a impressão de aprisionar algo terrível.
− O que é aquilo? − perguntei a Zamorim.
− Foi dali que partiu todo o desequilíbrio que se instalou sobre a Terra e esse mundo − respondeu, depois de um longo suspiro. – Deves aguardar o momento de conhecer toda a verdade.
Pelo tom de Zamorim, deixei de lado minhas indagações.
Trecho liberado desde que informada fonte.
Serie: Harpa Sagrada. (são sete livros)